quarta-feira, 16 de março de 2011

Medo de quê?



Quando se é criança, se tem medo do escuro, do homem do saco preto, de gente muito feia, de cachorro bravo, de ladrão, da policia prender sua mãe e nunca mais devolver, de avião, do barulho da máquina de lavar roupa, de ficar doente e nunca mais sarar, do monstro do armário, da cobra da privada (isso mesmo, da cobra da privada! eu jurava que tinha uma cobra que morava na minha privada, que só acordava à noite para tomar meu xixi! Dá um desconto que eu sou criativa desde criança!). Enfim, tínhamos medo, muito medo, e não tínhamos vergonha nenhuma de sair correndo, gritando ou chorando para pedir colo para a pessoa confiável mais próxima.



Alguns anos depois, só porque já nasceram alguns pêlos no seu corpo, você mora sozinho, tem seu próprio carro e acha que não deve satisfações a ninguém, estufa o peito e proclama "Eu cresci, não tenho medo de nada, e de ninguém!".


Bem, eu cresci, não moro sozinha todos os dias, não tenho meu próprio carro, de tudo isso a única coisa que eu tenho são os pêlos, mas mesmo assim eu brado que eu não tenho medo de nada, e de ninguém! Mas lá no fundo, lá mesmo, no meio de toda lama, escondido com todos os meus erros, misturado com todas as minhas frustrações, dividindo espaço com as minhas mentirinhas sadias, tem um sentimento, que eu não sei o nome, acho que pode ser o medo.


Medo de quem? Medo do que? Eu não tenho mais medo do escuro, nem medo da cobra da privada, e dos outros medos infantis, porque hoje eu sei que eles não fazem sentido. Hoje eu sei que é impossível ter um monstro no meu armário, assim como se minha mãe não fizer nada de errado não irão prendê-la.


Mas eu sei, que se eu parar para refletir no mundo, eu posso não acreditar mais em Deus e nem nas coisas boas. Que se eu me matar de trabalhar, todos os finais de semana e feriados e ficar viajando o tempo todo, a probabilidade de eu ficar solitária é quase de 100%.


Eu sei que se eu sempre disser a verdade, nada além da verdade, somente a verdade eu possa magoar os outros. Que se eu não der atenção ao meu pretê, ele pode me deixar. Eu sei que se eu mudar de cidade talvez eu não vá me adaptar. Que se eu trocar de emprego pode não dar certo, e eu querer voltar. Eu sei que se eu voar, eu posso cair, da mesma forma, que se eu mergulhar posso me afogar. Que se eu fizer algo muito diferente, eu posso chocar as pessoas que me amam. E só de pensar em tudo isso, eu sinto um frio na barriga, uma coceira nos olhos, uma vontade de sair gritando e pedir colo pelo amor de Deus!


Pera ai! Sair gritando, pedindo colo não é coisa de criança? Sim, mas eu começo a achar que não só de criança.


Medo é como o amor, quando você menos espera, ele aparece, mexe com você, e de repente ele some, e depois volta de novo e some.


Será que daqui um tempo, esses medos parecerão bobeira, como os de antigamente? Sinceramente eu não sei, o que eu sei é que já está na fase dele sumir, para aparecer novamente mais tarde.

[B. S.

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