sexta-feira, 17 de março de 2017

É isso. Essa sou. Prefiro que você veja agora porque não sei me guardar para o final. Escolhi te mostrar o cru, a carne que vem dentro, as suturas todas espalhadas, as manchas amareladas e os cortes profundos. Aquelas coisas que guardamos até de nós mesmos. Resolvi te mostrar muito além do que vim ao mundo, te mostro o antes para que você confronte com o que eu sou agora e perceba o quanto mudou. Eu não vou maquiar nenhuma das minhas decisões. Desnudo todas as minhas verdades. Me lavo de todos os pudores. Quero que me veja inteira como nunca fui. Veja, estou cansada dessas relações em que tive que me concentrar em ser outra versão de mim. Menos dramática, menos neurótica, menos preocupada, menos e menos e menos (…) as doses eram sempre planejadas em pequenas quantidades para não causar grandes efeitos. Fiz de tudo. Ensaiei as falas, ignorei os comentários, balancei a cabeça nos momentos apropriados. Tudo para evitar um possível susto. Eu era uma versão modificada de mim. Mas hoje, aqui com você, com a ânsia me embrulhando o estômago me confundindo se é amor ou um aviso de que vou passar mal, com a temperatura do meu corpo subindo ao ponto de eu achar que minha cabeça está incendiando, eu prefiro que você escute isso. Eu prefiro que você se assuste com aquilo que eu sou e não com uma tentativa de mim. Que esse discurso verborreico não seja encarado como um surto ou um acontecimento que não irá se repetir. Eu sou isso que você está vendo agora. Nada mais. É isso."
 Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente  (via alegrais)

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