sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sinceramente, não estou fazendo o menor esforço para tentar entender por qual motivo você acha que minha vida é cena de novela, onde meu cabelo está sempre impecável; minha meia-calça nunca puxa fio; meu pé não fica com calos ou bolhas por causa dos sapatos desconfortáveis e lindos; minha unha não descasca, fica fraca ou quebra; meu rosto está sempre com a pele viçosa, sem olheiras, manchas, pés de galinha, marcas ou espinhas; meus ombros não ficam doendo no final do dia porconta do stress, bolsa pesada ou má postura; a gordurinha do lado, vulgo cartucheira, não gosta de mim; nunca preciso trocar uma lâmpada do banheiro, matar uma barata, fugir de uma lagartixa, passar aspirador de pó na sala, lavar o banheiro, arrumar a cama ou limpar o fogão. Não sei mesmo que ideia você faz da minha vida. Certamente deve pensar que acordo sempre de bom humor, sem dores na alma, com excelentes pensamentos, que minha vida conjugal não tem problemas, que não passo diariamente por crises existenciais e emocionais, que nunca choro ou carrego mágoas naquele canto escuro do peito.

Olha, eu sou humana, sou feita do mesmo que você: carne, osso, coração. Também fico triste, tenho dúvida, me sinto perdida, insegura, frágil, confusa, indefesa. Também grito, xingo, fico bêbada, sinto inveja, cometo injustiça, falo mal da moça que tem uma bunda enorme e cheia de furos gigantescos, mas usa fio dental porque se acha linda. E, sim, eu sei que cada um tem o direito de andar como quer e ninguém tem nada a ver com isso. E, sim, também sei que o que importa é o que você acha de você, não o que os outros acham, pensam ou falam. Mas não sou tão evoluída a ponto de não comentar olha-lá-a-buzanfa-gigante-celulitada-e-com-fio-dental.

A verdade é que sou gente. Tenho umas qualidades interessantes, legais e bacanas, mas possuo imperfeições absurdas, horrendas e assustadoras. Como todos nós.

Clarissa Corrêa

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